quinta-feira, 9 de julho de 2009

1840.


Saudades de um tempo que não vivemos...
Charqueada São João

A Casa das Sete Mulheres






" Aqueles foram tempos convulsivos no Rio Grande do Sul. Um povo ainda em formação lutava por sua terra, seu gado, suas mulheres e seus filhos. Para o campo migravam os homens, numa marcha sem volta. Idealistas, sanguinários, libertários, soldados, estancieiros, peões, maridos, pais. No campo sangravam. No campo passavam frio e fome.


Apartavam-se até dos ideais, por vezes da razão. Escondiam o medo na insanidade. Perdiam as roupas, os cavalos, as batalhas. Farrapos.Na casa ficavam as mulheres. Com elas, moças que viam a meninice passar, esperando seus irmãos, seus pais, um pretendente que pudesse transpor a porteira só para cruzá-la novamente rumo à morte.Aqueles foram tempos de espera.E a espera trazia a incerteza, a angústia, o medo e a solidão, que disputava com a insanidade um lugar no coração do pampa. Mas na casa também repousavam a vida e a obstinação. A esperança de que uma ferida não fosse encontrar a morte ao cair da noite. Na casa as mulheres colocavam as dores para quarar ao sol.


E rezavam, crentes. Cozinhavam os doces e teciam as roupas, silentes. E amavam, amavam com gana e com fé, agarradas a esperanças que só dividiam com a escuridão do pampa. Na casa do general farroupilha Bento Gonçalves da Silva, líder tenaz de um povo insurreto, ficaram Ana Joaquina, Maria, Manuela, Mariana, Rosário, Perpétua e Caetana - e por que não dizer Beth Mendes, Nívea Maria, Camila Morgado, Samara Felippo, Mariana Ximenes, Daniela Escobar e Eliane Giardini. Seus registros perderam-se na história. Ninguém sabe quantas foram as noites que essas mulheres passaram em claro chorando seus homens, ou quantas foram as noites que gastaram reunidas na sala, em volta de um fogo tremulante, à espera de um parto, de uma notícia, de um encontro sorrateiro de amores proibidos.


Mas não há quem duvide de que essas noites se passaram, no aguardo de dias mais ensolarados, menos revoltosos. Como que por um gracejo da memória, a história da vida privada daquela estância emerge no livro A Casa das Sete Mulheres, da gaúcha Letícia Wierchowzki, é recontada por Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão e se torna realidade pelos olhos de Jayme Monjardim. Real, tão real quanto as noites que se arrastaram pelos corredores e quartos e lençóis daquela casa, na longa espera que começou em 1835 e expirou em 1845.Essa história não é apenas uma história do povo gaúcho.Não é apenas das mulheres - suas dores e seus amores - nem apenas dos homens e de seu sangue derramado.


É humana. Nasce do conflito, da discórdia, mas também dos ideais e da dignidade. Sobretudo, é uma história de amor, desse sentimento que fala aos homens de bravura, às mulheres enlevadas, às mães zelosas e ao coração de qualquer um que a escute. Uma história apaixonada que comoveu uma equipe que se transformou em uma família comandada por um pai exigente, obstinado, determinado e, ainda assim, doce. Na distante Cambará do Sul, sobre os Campos de Cima da Serra, nas escarpas do Rio Grande, o elenco gravou suas primeiras cenas num sábado de um mês de outubro abafado. Num vale de margaridinhas, à beira da estrada que leva ao Parque Nacional dos Aparados, era possível ouvir a pulsação do coração de Camila Morgado, mais Manuela do que qualquer outra jamais poderia ser, na sua primeira cena na televisão. Ali era possível beber do amor fantástico, surreal da doce Rosário, personagem que latejava sob a pele alva de Mariana Ximenes. Os olhos marejados de tanto amor pelo impávido Estevão, forjado para Thiago Fragoso. Ao longe, fora da cena, Amanda Lee galopava livre, os pés soltos dos estribos, o sorriso largo da índia Luzia estampado no rosto trigueiro. O fim do dia trouxe lágrimas aos olhos de muitos - emoção que se repetiria muitas vezes, em várias outras cenas conquistadas, e não apenas gravadas. Algo aconteceu naquele vale das sete mulheres, no sétimo dia em que Jayme Monjardim pisava o Rio Grande do Sul: a certeza de que todas as pessoas ali respiravam aquela história de amor, estavam tomadas por ela, viviam-na. Ali, o que era história de um povo passou a ser realidade.


Ao entardecer, com o corpo cansado e a alma extasiada, a família se reunia novamente, no mesmo clima que temperava o set de gravações. À porta da pousada Recanto das Gralhas, Jayme e Marcos Schechtman, ladeados por Mariana e Amanda, tomavam o mate como quem foi criado pra fora, à beira do fogo de chão. Observavam o pôr-do-sol com a tranqüilidade de quem sabe que as coisas estavam começando bem. À noite, a hora era de celebração. A equipe tomou conta de uma churrascaria e, ao som de gaitas e violões - inclusive o de Thiago Fragoso -, festejou o início dos trabalhos. Mariana, Amanda e Camila eram um show à parte, dançando como prendas de galpão, faceiras. Na vizinha São Jose dos Ausentes a família cresceu, chegaram soldados e chinas, as demais mulheres da casa, seus irmãos e seus amores. Lá desembarcou Werner Schünemann, trazendo na alma o lendário general Bento Gonçalves. Lá, também, a chuva e a serração apanhou a equipe de surpresa, causou angústia e apreensão, os primeiros lamentos. Como toda família, esta aprendeu a se unir na dor, e assim teve certeza de que, a partir dali, poderia superar, junta, todas as dificuldades. E elas estavam por vir. Mais tarde, em Pelotas, fez-se a casa, cercada de sussurros entre as moças, promessas de amor jamais cumpridas, certezas desfeitas pela guerra que se desenrolava. Lá chegou, impressionante, garboso, exato, Thiago Lacerda, carregando dois olhos de oceano nos quais podia-se ver o amor de Giuseppe Garibaldi por Manuela, que sentia o mesmo, que alimentava esperanças fundamentadas pelo marinheiro. Guiados de perto por Jayme, a voz suave pedindo a impostação certa, Thiago e Camila eram o retrato de um amor que qualquer um gostaria de sentir. Puro e arrebatador. Difícil era resistir à emoção, alimentada pelos acordes da trilha sonora épica de Marcos Viana, que se espalhava pelo jardim. - Com o Jayme é sempre assim, essa união, esse envolvimento de todos. E isso poderá ser sentido na televisão - contava Thiago, os olhos brilhando de amores pelo seu Garibaldi, figura que ele vinha estudando há quatro anos, sem sequer imaginar que um dia estaria em sua pele.
A luz suave e intimista do set criava cenários únicos, imagens de sonho. As mulheres se revezando nas lidas da casa e nas confissões de paixão, muito alvas e serenas, mais pareciam sílfides a se esconderem das mães e das tias para vislumbrar o amor na boca do rio. Na sombra dessas mulheres, sempre estava Jayme, que tudo fotografa, que tudo vê, nada lhe escapa ao olhar. No pátio da casa, Daniela Escobar carrega sua Perpétua numa aura de meiguice por entre tinas e cestos de frutas. Aproxima-se da janela do quarto no qual Rosário chora seu amor por Estevão. 0 encontro das duas não é uma cena. É uma visão. A meia luz que incide sobre as primas, olhos profundos, os longos cabelos derramando-se sobre os ombros esguios, cria uma pintura renascentista. E Jayme vai fotografando, dirigindo, registrando o que ele sabe ser sua obra maior. Ao fundo, brincando debaixo de uma mesa de madeira rústica, os grandes olhos escuros atentos, seu filho, André, observa o trabalho do pai e da mãe.


Por último, a "guerra das sete mulheres" convulsionou os campos de Uruguaiana, fronteira com a Argentina. Sussurros de amor e noites de aflição feminina cederam espaço para a tarefa hercúlea de desenhar no pampa as batalhas do século 19. Centenas de homens, peões da lida do cavalo juntaram-se ao elenco no entrevero do cruzar de lanças e espadas.Em Uruguaiana, até os céus se abriram para o diretor. Num momento que jamais se apagará da memória de quem o testemunhou, uma tarde de chuva inclemente rasgou-se num horizonte rubro de pôr-do-sol. Prontamente, Jayme improvisou o que entrara para a história como uma das cenas mais belas da televisão brasileira. 0 general Bento Gonçalves, condoído e tão humano como qualquer um que esteja prestes a perder um amigo, carrega nos braços o cunhado ferido de morte.


0 que se vê é apenas sua sombra emoldurada pela bola de fogo do pôr-do-sol. São breves segundos ofertados pela natureza - e capturados pelas câmeras - que levam todos à emoção. A equipe aplaude. Jayme não cabe em si de excitação. Werner chora.0 domingo 17 de novembro terminou em fascínio.


No dia anterior, um sábado de sol causticante, um telefonema vinha para reforçar o amor que unia aquela família. Reunidas na casa de Nívea Maria, no Rio de Janeiro, as sete mulheres ligaram para Jayme só para dizer que estavam juntas e pensando neles, "os homens da casa", que batalhavam no pampa, na distante fronteira castelhana. A família não via a hora de estar reunida novamente.


0 que a Casa das Sete Mulheres tem de relevancia histórica, tem de magia. Recriar episódios da história e levar a memória de um país para a televisão é um desafio.Fazê-lo com poesia é um dom. "

Milena Fisher








Guerra dos Farrapos






Guerra dos Farrapos


Local e Data: Rio Grande do Sul / 1835-1845

Liderança: General Bento Gonçalves e Bento Manuel Ribeiro

Quem Participou: O italiano Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi
Estancieiros liberais, escravos, homens livres, e militares como General Antônio de Sousa Neto, David Canabarro,Teixeira Nunes,Onofre Pires e Corte Real.
Lutaram contra os Imperiais,também chamados de Caramurus, do lado deles estavam Pedro II do Brasil, Lima e Silva, Marques de Sousa e Bento Manuel Ribeiro.

Causas/Objetivos: Desde o final do século XVIII, a criação de gado era a base da economia do Rio Grande do Sul. O charque -- carne seca e salgada -- era consumido em todo o país e o couro dos animais, exportado para a Europa. Os estancieiros gaúchos sofriam a concorrência da Argentina e Uruguai que, produzindo carne com mão-de-obra
Livre, e a vendiam por mais baixos.
O governo do Rio de Janeiro hesitava em adotar medidas protecionistas a favor dos criadores brasileiros, o que levou, principalmente estancieiros e militares a defenderem idéias separatistas; o desagrado dos militares em relação a suas promoções que ficaram em sugundo plano no cenário militar imperial; idéias liberais e democráticas por parte de estrangeiros expulsos de seus paises que vieram ao Brasil, e por alas oposicionistas do Governo; a disseminação de ideais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, a exemplo da
Província Cisplatina; a imposição de presidentes provinciais por parte do Governo imperial que ia contra o direcionamento político da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul, desagradando a elite política regional. O Objetivo era a Independência do Rio Grande do Sul, para que o Brasil fosse economicamente dependente de seu produto.
O que aconteceu com o presidente da província:
O presidente da Província
Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nome que, se inicialmente agradou aos liberais, aos poucos foi perdendo a confiança do povo. No dia em que tomou posse, Fernandes fez uma séria acusação de separatismo contra os estancieiros rio-grandenses, chegando a citar nomes, o que praticamente liquidou as chances de conviver em paz com o povo.

Como terminou: Realmente originou-se a República Rio-Grandense, que durou de 1836 a 1845. Em primeiro de março de 1845, os imperialistas, liderados por Duque de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam a paz de "Ponche Verde", declarando fim aos conflitos.

Principais pontos assinados no tratado de paz:
· O império pagaria as dívidas do governo republicano;
· Os oficiais republicanos são incorporados ao exército brasileiro;
· Eram declarados livres todos os escravos que tinham lutado nas tropas republicanas;
· Seriam devolvidos todos os prisioneiros de guerra;
· Foram elevadas as taxas alfandegárias para importação do charque estrangeiro, o que favoreceu ao charque gaúcho.